8 de abr. de 2013

O Alquimista


Ela se sentou ao lado dele no coletivo
Ele austero, sisudo, lia um livro...
Ela tentou discretamente observar o conteúdo
Ele se ajeitou no acento e
Tocou-lhe involuntariamente no pé direito
Ela se enfureceu... Fitou-o diretamente...
Ele nem tomou nota...
__O senhor não tem educação?
Ele lhe direcionou o olhar e continuou mudo...
Ela se enervou ainda mais. Com um olhar irônico lhe acertou essa:
__Não tem medo de morrer?
Ele novamente lhe direcionou o olhar e acenou negativamente... Voltou a ler o livro
Ela se tomou de um instinto puramente maligno. Parecia querer estrangula-lo apenas com olhar
__E se... Eu lhe dissesse... Que morre hoje... Até o final do dia?
Pela terceira vez ele lhe direcionou o olhar, no entanto, com uma voz firme e precisa lhe respondeu:
__Não sei qual fé você segue, mas... Quem é dono do meu futuro e vida é o Senhor do Universo!
Ela desfez em segundos seu olhar maldoso e profundo, sendo tomada de um pânico momentâneo. De fato, aquelas simples palavras ditas por aquele desconhecido lhe atingiram profundamente. Curiosa ela perguntou?
__E qual fé você segue?
__Nenhuma seguida pela humanidade, com seus diversos ritos e dogmas
Ela franziu a sobrancelhas
__E qual seria?
__Sou Alquimista!
Ela fez um olhar de assombro e segundos depois deu uma longa e sonora gargalhada, que chamou a atenção de todo o coletivo. Irônica ela perguntou:
__Transforma a coisa em ouro?
Em toda sua vida já havia ouvido aquela pergunta milhares de vezes, tinha a resposta automática:
__Com certeza!
Ela incrédula
__Me mostre!
__No entanto não cabe a todos verem ou saberem
__Como assim?
__Ouro é tudo o que me é de valia. Veja esta bolsa, por exemplo, ou este relógio que uso. São de fato meu ouro!
__Mais uma vez ela gargalhou
A bolsa (ou mochila) era usada, surrada e muito rota, o relógio, um modelo barato comprado em alguma banca na rua. Ela rebateu:
__Mas sua bolsa já esta bem velhinha heim (risos) e seu relógio se compra em qualquer esquina (mais risos)
__A bolsa.... Guardo o que preciso! O relógio... Marcam as horas como qualquer outro... (um longo silêncio). Mas tenho mais ouro em casa (sorriu), minha família!
Neste momento ela foi tomada de uma profunda tristeza e magoa. Pois se lembrará que seu modo de vida e atividades a deixaram sozinha sem família... sem amigos...
O coletivo anunciou a próxima estação (Sé). Ele pediu licença para descer, ela deu passagem. De cabeça baixa olhou de relance no braço do homem que acabará de se levantar e em seu pulso um relógio que reluzia dourado! De boca aberta levantou a cabeça, sua voz não saia. Só pode ver quando ele colocou nas costas a bolsa de uma grife famosa!

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